O tabagismo passivo pode prejudicar a saúde dos não fumadores?

Nos últimos anos tem vindo a ser dada maior atenção às pessoas não-fumadoras que convivem, em casa ou no local de trabalho, com fumadores, existindo cada vez mais informação científica que conclui que o tabagismo passivo pode prejudicar a saúde a diferentes níveis.
O tabagismo passivo consiste na exposição aos produtos de combustão do tabaco e sua inalação por pessoas fumadoras e não-fumadoras.

Fumo do tabaco

No interior de uma sala, o fumo do tabaco tende a concentrar-se numa zona média, em vez de se dispersar. Isto porque o ar quente tende a subir mas, como o fumo do tabaco rapidamente arrefece e é mais pesado que o ar, começa a descer, condensando-se numa nuvem que fica à altura do sistema respiratório de todas as pessoas que partilham esse espaço. O grau de exposição de um fumador passivo (e, portanto, o risco a que está sujeito) depende de vários factores, nomeadamente do tipo e número de cigarros queimados à sua volta, do tamanho do espaço onde se encontra e da taxa de ventilação desse mesmo espaço. Assim, em cafés, bares, restaurantes e outros ambientes fechados, os níveis dos produtos resultantes da combustão do tabaco (como, por exemplo, hidrocarbonetos aromáticos, monóxido de carbono, nicotina, óxidos de nitrogénio, nitrosaminas) chegam a atingir um valor 25 vezes superior ao encontrado em áreas livres de fumo.

A inalação de fumo pode provocar irritação dos olhos, nariz e sistema respiratório, sendo responsável pelo aparecimento de vários sintomas. Cerca de 70% das pessoas não-fumadoras apresentam irritação ocular (“comichão” nos olhos; olhos vermelhos; lacrimejo) quando expostas ao tabagismo passivo. Dores de cabeça, tonturas, enjoos, irritação nasal (“comichão” no nariz; espirros), rouquidão e tosse também surgem com frequência em fumadores passivos.

As crianças são particularmente susceptíveis ao fumo do tabaco, uma vez que o seu sistema respiratório ainda se encontra em desenvolvimento. Nas crianças, o tabagismo passivo está associado com o aparecimento de infecções respiratórias, síndrome de morte súbita e asma. Não só a exposição directa ao fumo do tabaco no período pós-natal (recém-nascidos) e na infância aumenta o risco de desenvolvimento de asma ou sintomas respiratórios, mas também o consumo de tabaco pela mulher grávida aumenta, por si só, o risco de asma na criança. Estudos efectuados com crianças mostraram que o consumo de tabaco por um ou ambos os pais aumenta a probabilidade de a criança desenvolver tosse e expectoração crónicas, otite, pieira persistente (“chiadeira no peito”) e infecções respiratórias. Assim, se ambos os pais forem fumadores, a criança exposta ao fumo do tabaco apresenta um risco aumentado em 70% de desenvolver doenças respiratórias (asma, bronquiolite, pneumonia). Pensa-se também que 8% dos
casos de asma na infância são provocados por tabagismo passivo. Como as substâncias químicas provenientes do fumo do tabaco são absorvidas para a corrente sanguínea e atravessam a placenta, os bebés, filhos de mães expostas passivamente ao tabaco, têm mais tendência para apresentar baixo peso ao nascimento.

Crianças ou adultos asmáticos

Nas crianças ou adultos asmáticos, o tabagismo passivo pode provocar um aumento do número e da gravidade das crises de asma e uma redução da sua capacidade respiratória (não conseguem respirar com tanta força ou capacidade como as pessoas não expostas). Alguns estudos científicos revelaram que o tabagismo passivo contribui para o desenvolvimento de doença cardiovascular. Foi demonstrado que cerca de 30 minutos de exposição passiva ao fumo do tabaco são suficientes para causar redução na corrente sanguínea, o que predispõe à arteriosclerose, à formação de coágulos e ao estreitamento dos vasos sanguíneos, podendo, eventualmente, conduzir ao enfarte agudo do miocárdio. A exposição passiva ao tabaco no local de trabalho ou em sítios públicos aumenta em 50% a 60% o risco de doença cardíaca coronária. De igual modo, o tabagismo passivo reduz a quantidade de oxigénio que é transportada no sangue, exigindo assim um maior esforço cardiovascular durante o exercício físico.

Por outro lado, o tabagismo passivo é também um factor de risco significativo para o cancro do pulmão. Indivíduos não-fumadores com exposição prolongada ao fumo do tabaco têm um risco maior de desenvolver cancro do pulmão, que é cerca de 20% a 30% superior ao dos não-fumadores não expostos. Verificou-se também que cônjuges de indivíduos fumadores têm um risco aumentado em 25% de desenvolver cancro do pulmão.

É de lembrar que o risco de uma pessoa não-fumadora vir a desenvolver uma doença relacionada com o tabagismo passivo aumenta com a exposição a concentrações maiores de fumo e por períodos mais prolongados.

Tabagismo

O tabagismo passivo representa um desafio especial na discussão antiga quanto aos direitos dos fumadores. Pode ser discutível o direito de alguém fumar pondo em risco a sua saúde, mais tarde solicitando aos serviços públicos o tratamento das doenças assim adquiridas. No caso do tabagismo passivo não há discussão possível, uma vez que as vítimas não são os próprios consumidores do fumo do tabaco.

O conhecimento, com fundamento científico, das consequências do tabagismo passivo foi fundamental para legitimar as iniciativas legislativas de restrição do direito de fumar nos países mais desenvolvidos.



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