Possiveis Complicações da Gripe

A infecção pelo vírus da gripe pode variar muito em termos de gravidade, desde situações assintomáticas até doença grave com atingimento sistémico (generalizado). Só cerca de metade das pessoas infectadas exibem sintomas, mas a infecção pode ser transmitida por indivíduos sem queixas. A infecção aguda, quando sintomática, é caracterizada por início abrupto dos sintomas que incluem febre alta (38° a 40°C), calafrios, dores de cabeça (cefaleias), dores musculares (mialgias), tosse, dores de garganta (odinofagia), cansaço e indisposição, perda de apetite (anorexia) e outros sintomas inespecíficos. Por vezes, o início da doença é tão abrupto que os doentes sabem dizer a hora exacta em que começou. No entanto, existe um espectro alargado de formas de apresentação, que dependem não só da virulência do agente (por exemplo o vírus da gripe A(H3N3) causa infecções geralmente mais graves que o vírus A(H1N1) ou o do tipo B), mas também das características do hospedeiro, como a idade, o seu estado físico e doenças subjacentes, as suas experiências imunológica e vacinai prévias. Assim a gripe pode cursar com predomínio de sintomas sistémicos – febre, mialgias, cefaleias, mal-estar e cansaço intensos – com sintomas respiratórios escassos ou inexistentes. Por outro lado, a infecção pode apresentar-se como uma doença com predomínio de sintomas respiratórios, sem febre, similar a uma constipação ou resfriado comum. Aliás, entre leigos, a confusão entre gripe e constipação é muito comum, pois partilham o mesmo tipo de sintomas respiratórios e atingem a população normalmente na mesma época do ano, embora na constipação a febre alta seja normalmente inexistente, podendo ocorrer febrícula abaixo dos 38°C, e os sintomas gerais de mialgias ou cefaleias. Os agentes responsáveis pela constipação podem ser vários, mas os mais comuns são os rinovírus e os coronavírus. Além dos quadros de constipação, a gripe pode também ser confundida com infecções, nomeadamente por bactérias, que se apresentam com quadros clínicos de faringite, otite e pneumonia. Nas crianças a gripe pode manifestar-se sob formas ainda mais variáveis, dependendo da idade e da imunidade prévia para o vírus da gripe. Nas crianças anteriormente saudáveis, a gripe é uma doença febril aguda, autolimitada e que não se associa geralmente a complicações. O mais frequente é que apresentem febre mais alta que os adultos, que pode mesmo ser acompanhada de convulsões. No início da doença tendem a ter mais queixas gastrentestinais, como náuseas, vómitos e perda de apetite ou recusa alimentar, e sintomas respiratórios menos proeminentes do que as crianças mais velhas ou os adultos.

Quando se realiza um exame objectivo a um doente com gripe não complicada, para além da febre, os achados são escassos e inespecíficos. Apesar de a gripe ser caracteristicamente uma doença benigna com duração de apenas alguns dias, pode ser acompanhada de complicações graves. A pneumonia é a complicação mais comum e responsável pela maioria das mortes associadas à gripe; no entanto, podem ocorrer, embora muito raramente, outras complicações, especialmente as que atingem os músculos ou o sistema nervoso central.

A pneumonia é mais frequente quando a gripe afecta pessoas que pelas suas características estão em maior risco de desenvolver complicações, como aquelas que apresentam:
– idade superior a 65 anos e doenças pulmonares ou cardíacas crónicas;
– diabetes, hemoglobinopatias, doença renal ou imunodepressão;
– residência em instituições.
A pneumonia que ocorre durante a gripe pode resultar da infecção do pulmão pelo próprio vírus da gripe (pneumonia vírica). Neste caso, é uma complicação muito rara mas que pode ser muito grave, com progressão para um quadro de insuficiência respiratória de difícil tratamento. Pode também ocorrer uma pneumonia mista por vírus e bactérias.
A pneumonia mais frequente é causada por bactérias que secundariamente atingem as vias respiratórias, previamente fragilizadas pelo vírus da gripe e assim mais predispostas a infecções por agentes como o Streptococcus pneumoniae, o Staphylococcus atireus ou o Haemopbylos influenzae. Tipicamente, estes doentes apresentam-se com exacerbação da febre e aparecimento de sintomas respiratórios (como tosse com expectoração purulenta, dor no tórax e sensação de falta de ar) após uma melhoria inicial dos sintomas da gripe. Outras complicações frequentes são a exacerbação e a descompensação de doenças crónicas subjacentes,
sobretudo na doença pulmonar obstrutiva crónica e na insuficiência cardíaca. Os músculos podem ser atingidos por uma inflamação (miosite) e uma destruição (rabdomiólise) potencialmente graves mas que são raras e não se correlacionam com a presença, comum na gripe não complicada, de dores musculares. Doenças do sistema nervoso central também podem associar-se a infecções pelo vírus da gripe, embora esta relação permaneça por esclarecer e até estabelecer com certeza. Uma dessas doenças é a síndrome de Reye, uma encefalopatia caracterizada por vómitos, alterações da consciência e edema cerebral, que pode progredir para coma muitas vezes fatal. E uma complicação rara e ocorre quase exclusivamente em crianças a tomar aspirina, aquando da infecção gripal, especialmente se causada pelo vírus B. Esta complicação neurológica também pode acompanhar a infecção pelo vírus da varicela, e daí a importância de se vacinar contra a gripe e a varicela as crianças que têm de tomar aspirina de forma continuada, bem como a importância de não recorrer à utilização da aspirina no tratamento de febre ou dores em crianças, sobretudo quando se suspeita de uma destas infecções.
Nas crianças a complicação mais frequente é a otite média aguda, seguida de doenças das vias respiratórias inferiores como pneumonia, bronquite, laringotraqueíte, e mais raramente bronquiolite.



1 Comentário to “Possiveis Complicações da Gripe”
  1. estevao

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