A vacina contra a gripe previne mesmo o aparecimento da gripe?

A vacinação anual é a forma mais eficiente de reduzir os efeitos da gripe. A efectividade da vacina é variável de ano para ano e depende do grau de concordância antigénica entre as estirpes de vírus usadas na sua produção e as estirpes em circulação nas populações humanas, mas depende também de características da pessoa vacinada, como a idade e a competência do seu sistema imunitário.

A vacina pode prevenir 70 a 90% dos casos de doença em pessoas adultas consideradas saudáveis, com menos de 65 anos. Em pessoas mais velhas, em crianças e em pessoas com doenças crónicas, a vacina pode de facto não prevenir o aparecimento de gripe, mas reduz a gravidade dos sintomas e o risco de complicações. A vacinação nas pessoas com mais de 65 anos reduz a probabilidade de internamento por complicações relacionadas com gripe em um a dois terços. Nos idosos que vivem institucionalizados a vacina contra a gripe pode reduzir em 80% o risco de morrer com a infecção. A efectividade da vacina em crianças de idade escolar é semelhante à descrita para adultos saudáveis mas parece conferir menor protecção às crianças mais jovens. Existem dois tipos de vacina contra a gripe, uma produzida contendo vírus vivos (atenuados), a outra com vírus mortos (inactivados). As vacinas produzidas com vírus vivos estão aprovadas apenas em alguns países e são administradas em pessoas saudáveis dos 5 aos 49 anos. As vacinas feitas recorrendo a vírus inactivados, estão aprovadas para todas as pessoas com idade superior a 6 meses e são administradas por injecção intramuscular.

Todas as vacinas são produzidas em ovos embrionados. Após a vacinação, o nível de anticorpos que confere protecção é atingido geralmente ao fim de duas semanas e persiste por um período inferior a um ano. Por outro lado, o vírus da gripe sofre mutações frequentes e em cada ano são produzidas vacinas mais adequadas aos vírus circulantes. Estas duas razões fazem com que as vacinas devam ser tomadas anualmente. A vacina é administrada numa dose única nos adultos. No entanto, as crianças dos 6 meses aos 8 anos de idade devem tomar duas doses de vacina contra a gripe, com pelo menos quatro semanas de intervalo, quando da primeira vez que são vacinadas ou se é a segunda vez e no ano anterior fizeram apenas uma dose. Na maioria das pessoas a vacina contra a gripe previne as situações graves relacionadas com a gripe. Importa sempre lembrar que não previne outras infecções respiratórias que podem confundir-se com gripe e que são provocadas por outros vírus. A vacina anual contra a gripe apenas protege contra a infecção pelac estirpes de vírus contidos na vacina. Esta pode ser administrada em simultâneo com as vacinas incluídas no Programa Nacional de Vacinação e com outras vacinas inactivadas ou vivas atenuadas, desde que a injecção se faça em locais anatómicos diferentes.
A vacina contra a gripe pode ser tomada durante a gravidez, desde que no 2.° ou 3.° trimestre de gestação, e durante a amamentação.

Todos os anos, a Direcção-Geral de Saúde emite recomendações relativamente aos grupos de risco que devem ser preferencialmente vacinados, visto que é limitada a quantidade de vacinas contra a gripe sazonal atribuída a cada país. No entanto, desde que disponível, a vacina pode ser tomada por qualquer pessoa que queira diminuir a sua probabilidade de ter gripe, e especialmente por aqueles que tenham um risco aumentado de ter complicações relacionadas com a gripe ou que possam transmiti-la a pessoas de maior risco.

A vacinação contra a gripe é normalmente recomendada

  • – pessoas com mais de 65 anos;
  • – pessoas com doenças crónicas (pulmonares, incluindo asma, ou cardíacas; renais, hepáticas, hematológicas, metabólicas (incluindo Diabetes melUtus) ou neuromusculares que comprometam a função respiratória, situações que provoquem depressão do sistema imunitário, por medicação (ex: corticoterapia prolongada ou quimioterapia) ou por doença (ex: infecção pelo vírus da imunodeficiência humana ou cancro);
  • – residentes ou internados por períodos prolongados em instituições prestadoras de cuidados de saúde;
  • – crianças e adolescentes (6 meses a 18 anos) em terapêutica prolongada com salicilatos (aspirina);
  • – coabitantes de crianças que tenham menos de 6 meses de idade e risco elevado de desenvolver complicações;
  • – grávidas no 2.° ou 3.° trimestre;
  • – profissionais que trabalhem em serviços de saúde e de outros serviços prestadores de cuidados (domiciliários ou em instituições) e com contacto directo com pessoas de risco elevado de desenvolver complicações;
  • – profissionais que possam vir a estar envolvidos em operações de abate sanitário de aves potencialmente infectadas com vírus da gripe.

Não devem tomar esta vacina as pessoas que tenham tido uma reacção grave a uma dose anterior da vacina contra a gripe; as pessoas que tenham alergia séria (com probabilidade de desenvolverem uma reacção anafiláctica) a qualquer dos componentes da vacina, nomeadamente às proteínas do ovo e proteínas de galinha, a certos antibióticos, adjuvantes ou aos seus excipientes (de acordo com a vacina em questão); e aquelas que tenham tido síndrome de Guillain-Barré (uma doença neurológica caracterizada por paralisia ascendente) nas seis semanas seguintes a ter-lhes sido administrada uma dose da vacina. Pessoas moderadamente ou muito doentes geralmente devem esperar que se resolva a situação de doença e adiar a toma da vacina. Nestes casos, a decisão de vacinar deverá ser ponderada caso a caso e discutida com o médico assistente.
As vacinas, como qualquer medicamento, podem ter consequências indesejáveis sérias, como uma reacção alérgica grave. No entanto, a vacina contra a gripe raramente provoca efeitos colaterais e quando isso acontece habitualmente são ligeiros. A reacção mais frequente (e muito variável em frequência, de 10% a 64%) é o endurecimento no
local da inoculação, que dura um a dois dias e que, de um modo geral, não interfere com as actividades da pessoa. Podem também ocorrer febre, mal-estar e mialgias seis a 12 horas após a vacinação, com duração de um a dois dias.
As reacções alérgicas à vacina contra a gripe são raras e são provavelmente consequência de hipersensibilidade a uma componente da vacina. Quando surgem, as reacções alérgicas que ameaçam a vida aparecem de alguns minutos a poucas horas após a toma da vacina. A hipótese de relação causal entre a vacina contra a gripe e o aparecimento da síndrome de Guillain-Barré em adultos surgiu em 1976, aquando da utilização de uma vacina com a estirpe A. Dos estudos conduzidos posteriormente concluiu-se que as informações são insuficientes para confirmar ou negar a existência de uma relação causal entre a vacina contra a gripe utilizada desde então e a síndrome de Guillain-Barré. Para além disso, se existe um risco de síndrome de Guillain-Barré associado à vacina contra a gripe usadas actualmente, este não deve ultrapassar um ou dois casos por milhão de pessoas vacinadas, que é um risco muito menor que o de ter uma gripe grave se ela não for prevenida com a vacinação. Além destas complicações vacinais, foi também descrita a ocorrência esporádica da síndrome óculo-respiratória, uma patologia auto-limitada, que se desenvolve nas 24 horas após a vacinação e que inclui conjuntivite bilateral e/ou sintomas respiratórios (tosse, pieira, opressão torácica, dispneia, disfagia, rouquidão, odinofagia) e/ou edema facial.



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