A influência do local de nascimento na esperança de vida

Olhe para o que o rodeia. A sala em que está, o ar que respira, o tempo que faz lá fora e os raios radioactivos invisíveis que penetram na sua casa podem influir na possibilidade de viver eternamente, ou pelo menos de ter uma vida longa e com qualidade.

Estudos realizados em gémeos – um método habitual de analisar a influência dos nossos genes – demonstram que só cerca de 25% da variação do tempo de vida nos seres humanos, nos países desenvolvidos, é que resulta de factores hereditários. Isto significa que aquilo que mais influencia o tempo que vivemos é, de longe, o que acontece durante a nossa vida. Um dos aspectos mais importantes é o ambiente que nos rodeia e os riscos a que ele nos expõe.

Os factores de risco ambiental no capítulo das doenças mudaram drasticamente nos últimos dois séculos, e é provável que esteja exposto a perigos muito diferentes dos que os seus avós ou bisavós enfrentaram. Embora os sistemas de canalização medievais (ou a falta deles) e a Peste Negra possam não estar muito presentes na sua mente, conhece decerto os novos riscos ambientais provenientes dos produtos químicos e da poluição que surgiram na nossa era pós–industrial.

Local de nascimento e a sua esperança de vida

O local em que nasceu congrega uma série de factores que podem influenciar a sua esperança de vida. Se nasceu num país desenvolvido ou no seio de uma família abastada num país desenvolvido, isso pode determinar uma diferença de 10 anos no seu tempo de vida. O que complica mais as coisas é que, mesmo que venha a mudar-se, continuará a ser portador da herança que recebeu ao nascer. Entre os diversos factores que o seu local de nascimento dita, contam-se os seguintes:

  • Os seus genes: Há grandes variações geográficas na genética, e muitas doenças genéticas são especialmente preponderantes em certas regiões. A drepanocitose, por exemplo, é muito mais vulgar em África ou nos indivíduos de origem africana, enquanto que as mutações genéticas responsáveis pela fibrose cística são mais susceptíveis de aparecer no Norte de Inglaterra.
  • A sua dieta: Os hábitos alimentares criam-se cedo e pode ser difícil alterá-los. As crianças que crescem no seio de uma cultura de fast-food têm uma tendência maior para aderir a este tipo de alimentação e para sofrer todas as suas consequências nocivas até ao fim da vida. Em contrapartida, uma alimentação saudável na infância pode proteger um indivíduo de determinadas doenças numa fase posterior da existência. Estudos científicos revelam que os asiáticos que vivem no seu país de origem apresentam taxas mais baixas de cancro da mama do que os americanos, o que talvez se deva a uma dieta rica em vegetais, nomeadamente soja. Se esses asiáticos se mudarem, na idade adulta, para os EUA, a taxa de cancro aumenta um pouco. Mas nos filhos de Imigrantes asiáticos nascidos nos Estados Unidos, o risco de contrair cancro da mama é 60% mais elevado. Ou se perdeu um factor de protecção existente na alimentação asiática durante a infância ou existe um factor alimentar nocivo na dieta ocidental.
  • Atitudes culturais perante a saúde: Na maioria das sociedades, há mitos e conceitos errados em relação à saúde. Muitas vezes, eles passaram de geração para geração e pode ser difícil convencer alguém de idade avançada a mudar de opinião. Os conceitos sobre o papel a desempenhar pelos homens e pelas mulheres na sociedade, por exemplo, também influenciam a longevidade. O modo como os seus pais ou avós o ensinaram a comportar-se – se era aceitável fumar, ou se as vacinas eram consideradas obra do diabo – pode acompanhá-lo para o resto da vida.
  • O seu nível de escolaridade: É provável que o sítio em que nasce seja o mesmo em que passa a infância e em que vai à escola, isto é, se frequenta a escola. A instrução está directamente ligada à longevidade porque, quanto mais aprender, maior é a probabilidade de ser saudável e próspero.
  • Danos causados por doenças na infância: A partir do momento da concepção e durante a infância, somos influenciados pelo ambiente que nos rodeia, através de guerras, acidentes, doenças e poluição. As consequências das doenças da infância podem acompanhar-nos pela vida fora.

Embora possa escapar à maioria destes factores (mas não a todos), as consequências que eles têm no seu corpo, na sua mente ou nos seus hábitos durante a juventude podem deixar uma marca permanente na sua saúde e na sua mortalidade.



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