As doenças e o sexo

As doenças físicas e psíquicas e seus tratamentos provocam perturbações directas e indirectas na esfera sexual, tanto na pessoa que sofre como no parceiro.

Assim, quem sofre de doenças que limitem e criem problemas, pode sentir directamente mais dificuldades na sua actividade sexual e indirectamente pode experimentar uma série de sensações, como aumento de ansiedade ou diminuição da auto-estima que, no seu conjunto, afectam a sua sexualidade.

Por outro lado, o companheiro pode sentir receio de agravar a doença do parceiro com a actividade sexual ou, secundariamente, pode sentir diminuição do desejo e da vontade por acção directa da doença e seus tratamentos, como pode acontecer, a título de exemplo, no caso de alterações à fisionomia do corpo do parceiro, pelo uso de radioterapia ou quimioterapia, usados no tratamento de inúmeras doenças.
Como se não bastasse o papel perturbador na sexualidade que as diferentes doenças desempenham, muitas vezes há que ponderar o efeito directo da medicação no controlo desta e os efeitos colaterais que podem provocar.
Peguemos no exemplo da depressão. A depressão por si só pode causar diminuição do desejo e ausência de vontade de contactos íntimos com a pessoa amada. Por outro lado, muita da medicação actualmente empregue no tratamento deste problema, afecta indirectamente a vida sexual do paciente, levando também à diminuição do desejo sexual. Entramos pois numa zona cinzenta, onde é necessário ponderação e diálogo. Devemos procurar resolver as questões mais vitais, para que depois, tanto pela melhoria da doença em si como pelo desmame da medicação, os efeitos colaterais desapareçam sem qualquer consequência.
Mas, nem sempre os efeitos colaterais dos fármacos são negativos podendo mesmo ser utilizados pelos médicos para potenciar melhorias.
Continuando no exemplo da depressão, pacientes com ejaculação precoce podem beneficiar, directa e indirectamente, da toma de antidepressivos. Ao retardar a ejaculação, proporcionando uma regulação do tempo decorrido entre a excitação e o orgasmo, doentes deprimidos e com problemas de ejaculação precoce, vão beneficiar de ambos os efeitos do fármaco.

Embora haja a tendência de associar a qualidade de vida física à actividade sexual no idoso, tal relação é de difícil comprovação. Mais claramente se associa o nível aumentado de actividade sexual na 3ª idade com uma boa saúde mental, uma atitude positiva perante o sexo e o desejo e prática sexual enquanto jovem. Por outro lado, os problemas físicos de saúde, esses sim, estão relacionados com um aumento de problemas na sexualidade.
Existem muitas patologias, que interferindo de forma directa e indirecta no corpo e mente, condicionam parte ou todo o ciclo de resposta sexual. Aqui, problemas tão variados como patologias psiquiátricas, neurológicas, cirúrgicas, metabólicas, endócrinas, vasculares, entre outras, vão originar um empobrecimento da sexualidade.
No homem, a erecção é um problema de destaque. Uma grande percentagem de homens, percentagem que vai aumentando com a idade, vai sofrer desta patologia. Aqui nem a hipertrofia benigna da próstata, nem a cirurgia a esta parecem desempenhar o papel essencial. Já a diabetes e problemas psicológicos exercem influência marcante.
Problemas relacionados com intervenções cirúrgicas que desfigurem o corpo e problemas relacionados com a perda de urina, mais comum na mulher devido a danos provocados pela gravidez nos tecidos pélvicos, podem levar a que a actividade sexual seja evitada pelo próprio e/ou rejeição por parte do parceiro.
No campo das doenças psíquicas, a depressão e a demência, tanto pela sintomatologia apresentada, como pelos efeitos indesejados da medicação, são doenças que limitam a sexualidade.
Na demência, outros problemas podem surgir, já que em alguns casos, dada a afectação da capacidade para pensar e discernir, podem surgir comportamentos inapropriados, perturbadores para quem cuida. No campo sexual, a hipersexualidade, associada a comportamentos sexualmente inapropriados, devem ser encarados como parte da doença e não como uma opção nova e consciente do doente. A abordagem destes doentes deve ser compreensiva, usando técnicas comportamentais que diminuam os estímulos, que distraiam o doente, não o repelindo ou isolando. Se necessário, neste, como em todos os casos em que se justifique, deve procurar-se ajuda médica e respectiva intervenção farmacológica.
Por fim, alertar para o problema do álcool e outras drogas, sejam elas ilegais ou prescritas pelos médicos. Em geral, os idosos são grandes consumidores de medicamentos.
Assim, álcool em excesso é um inibidor da actividade sexual, embora em doses reduzidas possa proporcionar desinibição e euforia. Narcóticos e barbitúricos inibem o comportamento sexual ao atrasar ou eliminar o orgasmo. Comprimidos para dormir, ao dar sonolência, podem diminuir o alerta para a actividade sexual na hora de ir para a cama.
Anti-histamínicos por vezes podem aumentar a secura da vagina, aumentando a dor com a relação e os anti-hipertensivos podem, por diferentes mecanismos, levar à diminuição da actividade sexual.

Problemas físicos e psíquicos podem afectar a sexualidade. Os tratamentos, com a toma de medicação, podem indirectamente afectar a vida sexual.
Deve sempre ponderar-se, com a ajuda do médico, as melhores opções terapêuticas para melhorar a saúde, minimizando os efeitos adversos dos tratamentos, apostando num plano que traga uma maior qualidade de vida.



1 Comentário to “As doenças e o sexo”
  1. Gomes

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