A Depressão no Idoso

A depressão é considerada hoje em dia, um problema de saúde importante que afecta pessoas de todas as idades, levando a sentimentos de tristeza e isolamento social que muitas vezes têm como desfecho o suicídio. Contudo, é nas idades avançadas que ela atinge os mais elevados índices de morbilidade e mortalidade, na medida em que assume formas incaracterísticas, muitas vezes difíceis de diagnosticar e, consequentemente, de tratar.

Em consequência, a principal dificuldade que se coloca aos profissionais de saúde é o diagnóstico correcto deste quadro clínico, que, em muitos casos, está associado ao facto de a maioria dos idosos, negar a sua depressão e não procurar tratamento psiquiátrico.

De facto, é frequente que as pessoas que rodeiam e convivem habitualmente com os idosos associem à idade avançada a melancolia e a tristeza devido a perdas afectivas, económicas, sociais e doenças crónicas, não valorizando as suas queixas.

As teorias que sustentam a depressão no idoso, como sendo diferente do tipo de depressão em outras faixas etárias, apoiam-se, entre outros aspectos, nas diferenças da sintomatologia apresentadas em cada caso.

Existem diversos estudos que demonstram que os idosos apresentam, na sua maioria, depressões atípicas, não se encaixando por isso nos padrões das classificações existentes.

As depressões atípicas podem ser caracterizadas por episódios de tristeza, claramente distintos, mostrando-se o doente apático, com queixas subjectivas de comprometimento cognitivo, ansiedade proeminente, somatização e excesso de preocupação com o corpo.

Reforçando esta tese, no idoso, os sintomas iniciais do quadro depressivo são relativamente inespecíficos, tais como a astenia, perturbações de sono, tristeza e ansiedade, desinteresse por hábitos e/ou prazeres habituais. Os sintomas mais específicos são os que decorrem da depressão do humor, bem como a lentidão psicomotora.

Na realidade, o idoso apresenta-se, muitas vezes, com múltiplos sintomas confusionais e preocupações somáticas, negando o humor disfórico ou não o vivenciando. A existência de doenças físicas concomitantes pode constituir um factor confusional no diagnóstico, visto que a maioria dos idosos personifica a interacção entre doenças físicas e psiquiátricas.

Entre as queixas mais frequentemente apresentadas salientam-se as algias atípicas, nomeadamente cefaleias, queixas reumatológicas e queixas gastrointestinais. Nestes casos, deve suspeitar-se de uma depressão subjacente sempre que se excluam causas orgânicas e/ou estejam presentes sintomas do síndrome depressivo (anergia, variação diurna do humor e insónia precoce), ou ainda eventuais tratamentos “específicos” que não melhorem o quadro clínico.

As alterações comportamentais podem ser o primeiro sinal de um Distúrbio Afectivo Maior, não sendo sempre facilmente reconhecidas. Ao menor esforço, a fadiga, talvez devido a uma doença física concomitante, pode produzir apatia, isolamento social e perda de interesse por actividades que anteriormente eram motivo de prazer. Alguns doentes manifestam ainda retardo psicomotor, como a lentidão da fala e dos movimentos do corpo ou, nos casos mais graves, isolam-se da sociedade, negligenciando o trato pessoal, recusando-se mesmo a comer ou a falar. Noutros casos existe activação psicomotora, caracterizada por agitação, cruzar de mãos, preocupação obsessiva, comportamento compulsivo e/ou inquietação. O que importa realçar das alterações verificadas no comportamento do idoso é o alerta quanto à possibilidade de estarmos perante uma doença depressiva.

Não há dúvida que, do ponto de vista vivencial, o idoso está numa situação de perdas continuadas, como seja a diminuição do suporte sócio-familiar, a perda do status ocupacional e económico, o declínio físico continuado, a maior frequência de doenças físicas e a incapacidade pragmática crescente. Estas perdas provocam, muitas vezes, sentimentos de desânimo e tristeza que, acabam por gerar síndromes depressivos.

A principal característica da Depressão em doentes idosos, é a comorbilidade
médica. Diferentes estudos têm mostrado que as maiores prevalências de depressão observam-se em doentes com: AVC (25% a 48%); doença coronária (8% a 44%); cancro (1% a 40%) e doença de Alzheimer (20% a 40%). Para além das patologias descritas a depressão aumenta frequentemente os índices de morbilidade e mortalidade de outras doenças associadas.

No contexto descrito, é óbvio que acresce a necessidade de se tratar a situação clínica conjuntamente com a doença depressiva.



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